O exercício da liberdade

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Exercer a liberdade significa agir de acordo com a própria vontade, dentro dos limites éticos, legais e do respeito aos direitos dos outros, é claro. Envolve a capacidade de fazer escolhas autônomas, expressar opiniões, tomar decisões e viver de acordo com os próprios valores e crenças, sem coerção externa. No entanto, a liberdade não é absoluta—ela vem acompanhada de responsabilidades e consequências.

A liberdade de expressão, por exemplo, permite que alguém compartilhe suas opiniões, mas não justifica a disseminação de fake news ou discursos de ódio que prejudiquem outras pessoas. Da mesma forma, a liberdade individual não pode se sobrepor ao bem-estar coletivo.

Há que se considerar também que uma liberdade total, sem limites, pode acabar prejudicando os outros e até mesmo a própria pessoa. Ninguém em sã consciência, ousaria sair nu em plena luz do dia numa avenida movimentada sem esperar ser levado a uma delegacia de polícia.   

 A liberdade e a felicidade estão profundamente conectadas. Quando alguém tem liberdade para fazer escolhas que estejam alinhadas com seus valores, desejos e sonhos, a chance de encontrar felicidade é muito maior. Afinal, ser livre significa poder viver de forma autêntica, sem imposições externas que sufoquem quem realmente somos.

A falta de liberdade, por outro lado pode gerar frustração, ansiedade e infelicidade, pois se nos sentimos presos a regras ou expectativas que não nos fazem sentido como podemos ser felizes?

Em uma sociedade ainda marcada pelo machismo, racismo e tantos outros ismos muitas escolhas que deveriam ser livres acabam sendo limitadas por julgamentos, pressões sociais e até obstáculos estruturais. Tais regras se aplicam ao ambiente de trabalho, à vida pessoal e até à forma como alguém se veste ou se comporta. As expectativas de comportamento para mulheres, esposas, filhas, sobrinhas, por exemplo, são rígidas e cheias de contradições.  Mulheres devem se vestir dessa forma, falar baixo, se relacionar de uma forma específica, ser submissas, obedecer ao marido e até só desejar coisas que são próprias para suas vidas.   

Muitas vezes, quem tenta exercer sua liberdade enfrenta resistência através de críticas, bullying, estereótipos ou até punições mais severas, o que denota a preferência que o ser humano tem, por escolha própria ou imposta pelo ambiente que frequenta, de buscar só o que lhe é permitido. Sua própria felicidade, autenticidade e desejos não parecem contar. Entretanto, cada escolha corajosa, apesar das barreiras, ajuda a abrir caminhos para os demais.

É claro que essa postura pode incomodar muita gente, especialmente quem se beneficia das regras e padrões impostos.

Quando o contexto é restritivo, pode até distorcer a percepção do que é possível em termos de escolhas da profissão, das amizades, do desenvolvimento pessoal e as pessoas nem percebem que existem alternativas porque cresceram em um sistema que sempre disse "isso não é para você".

 A questão, então, é como encontrar formas de ser você mesma sem se colocar em risco ou sofrer danos desnecessários. Algumas pessoas optam pelo enfrentamento direto, desafiando as normas abertamente, enquanto outras buscam formas estratégicas de afirmar sua liberdade aos poucos. Além disso, conhecimento é poder: entender melhor os mecanismos que impõem essas restrições pode ajudar a encontrar brechas e caminhos alternativos.

Nenhum caminho é fácil, mas cada passo dado nessa direção ajuda a abrir espaço para mais autenticidade para pessoas que vivem desafios parecidos.

Fingir conformidade enquanto, nos bastidores, se busca autonomia é um jeito de preservar a própria segurança e, ao mesmo tempo, conquistar pequenos espaços de liberdade. Assim, muitas pessoas evitam confrontos diretos e garantem que, aos poucos, consigam seguir seus próprios caminhos.

Outra forma de contornar essas dificuldades é buscar aliados—pessoas que compartilham da mesma visão e que podem oferecer apoio emocional ou até mesmo ajudar a abrir portas.

 O ideal seria que ninguém precisasse fingir ou se esconder por ser quem realmente é. Poder agir com autenticidade em qualquer situação é um direito básico, mas infelizmente, nem sempre a sociedade permite isso sem consequências.

Em uma sociedade que impõe padrões rígidos, qualquer desvio pode fazer com que a pessoa seja vista como "estranha", simplesmente por ser autêntica. Isso pode ser solitário e desgastante, porque a sensação de não pertencimento pesa, mesmo quando sabemos que estamos sendo fiéis a nós mesmos.

Seguir em frente com suas convicções, sem se deixar abalar pelo julgamento alheio, é um sinal de força e autenticidade. Nem todo mundo tem essa coragem, porque o medo de rejeição pode ser paralisante. Mas quando alguém mantém sua verdade, mesmo diante da pressão, isso não só fortalece a própria identidade como também inspira outras pessoas a fazerem o mesmo.

Mas, no fim das contas, a paz de espírito de viver de acordo com o que se acredita vale muito mais do que a aprovação de quem não entende ou não aceita.

 Se ninguém se dispõe a desafiar as normas injustas, tudo continua como está. Sempre foi assim na história—mudanças importantes só aconteceram porque algumas pessoas se recusaram a se conformar e decidiram abrir caminho, mesmo enfrentando resistência.

Não "nivelar por baixo" significa não aceitar menos do que o certo, o justo e o verdadeiro, mesmo que isso signifique incomodar os outros. Quem vai à frente muitas vezes paga um preço, mas também é quem impulsiona o progresso.

 Se você se sentir intimidada em alguma situação, talvez seja a hora de ousar e desafiar.  Seja maior para si mesma sem se importar com mais nada. Afinal, o resto é só o resto!