O Transtorno Obsessivo-Compulsivo, ou TOC, é um transtorno mental que se apresenta como obsessão (pensamentos intrusivos, recorrentes e indesejados) e compulsões (comportamentos repetitivos que a pessoa sente que precisa realizar para aliviar a ansiedade causada pelas obsessões). Os temas obsessivos mais comuns incluem: medo de contaminação, obsessões religiosas, medo de causar dano a si ou aos outros, necessidade de simetria ou exatidão, etc.
O TOC tem uma origem multifatorial: z
1. Fatores biológicos e neuroquímicos
Disfunção de neurotransmissores, principalmente a serotonina. Esse neurotransmissor está envolvido na regulação do humor, ansiedade e impulsos.
Alterações em circuitos cerebrais que envolvem o córtex orbito frontal, núcleo caudado e tálamo, regiões associadas ao controle de impulsos e tomada de decisões.
Algumas evidências sugerem também uma influência genética — parentes de primeiro grau de pessoas com TOC têm mais chance de desenvolver o transtorno.
2. Fatores genéticos:
O TOC tende a ocorrer em famílias, especialmente quando os sintomas começam na infância. Acredita-se que genes relacionados ao funcionamento do cérebro podem predispor uma pessoa ao TOC.
3. Fatores psicológicos e experiências de vida:
Experiências traumáticas ou estressantes de abuso, negligência, perdas ou situações de pressão intensa podem desencadear ou agravar sintomas obsessivo-compulsivos.
Ambientes muito rígidos ou com nível excessivamente alto de exigência podem contribuir para o desenvolvimento de crenças disfuncionais ligadas ao controle, perfeccionismo e responsabilidade exagerada.
4. Fatores ambientais e autoimunes (em alguns casos)
Em crianças, há uma hipótese chamada PANDAS (Distúrbios Neuropsiquiátricos Pediátricos Autoimunes Associados à Infecção por Estreptococos), na qual uma infecção por estreptococo pode desencadear sintomas súbitos de TOC e tiques.
Situações de estresse intenso, como mudança de escola, bullying ou divórcio dos pais, podem atuar como gatilhos.
Pode começar na infância, adolescência ou início da vida adulta.
Muitas vezes, os sintomas aparecem de forma sutil e vão se agravando com o tempo.
O TOC é o resultado da interação entre predisposição genética, funcionamento cerebral, ambiente e experiências vividas. É importante lembrar que não é culpa da pessoa ter TOC, e o transtorno pode ser tratado com eficácia por meio de psicoterapia (especialmente a terapia cognitivo-comportamental) e, em alguns casos, medicação.
A pandemia de COVID-19 pode ter contribuído para o desenvolvimento ou agravamento de Transtornos Obsessivo Compulsivo (TOC) em muitas pessoas. Com um aumento da preocupação com contaminação, durante a pandemia, lavagem excessiva das mãos e do corpo, mesmo quando não há necessidade, uso compulsivo de álcool em gel ou luvas, evitar contato físico, locais públicos ou pessoas, e higienizar superfícies repetidamente por medo irracional de contaminação, mesmo em ambientes seguros, lavar excessivamente as mãos ou o corpo, limpar a casa de forma repetitiva, trocar roupas com frequência exagerada, verificação constante da limpeza de objetos e superfícies, rituais mentais para evitar "contaminação" ou "doenças", evitação de espaços públicos mesmo após o fim das restrições se tornaram comportamentos normais e incentivados. Para pessoas com predisposição ao TOC — especialmente o tipo relacionado à contaminação — esse contexto reforçou compulsões como limpeza excessiva e medo de germes. Durante a pandemia, comportamentos típicos de TOC foram normalizados e até valorizados. Isso pode ter reforçado os sintomas em pessoas já vulneráveis, tornando mais difícil distinguir entre prevenção saudável e comportamento obsessivo.
A pandemia criou um cenário de incerteza generalizada, com medo da doença, da morte, do desemprego e do isolamento. Isso, aumentou os níveis de estresse e ansiedade, que são fatores de risco para o surgimento ou agravamento de TOC.
O isolamento social reduziu interações sociais e rotinas saudáveis que ajudam a regular a saúde mental. Com mais tempo em casa e menos distrações, pensamentos obsessivos ganharam espaço, e muitos desenvolveram rituais como forma de controle.
Pesquisas feitas em diversos países apontaram um aumento nos diagnósticos de TOC durante e após a pandemia. Pessoas que já tinham TOC relataram agravamento dos sintomas, especialmente os relacionados à contaminação. Crianças e adolescentes também foram afetados, principalmente por causa das mudanças bruscas na rotina escolar e social.
A pandemia atuou como um gatilho ou um reforçador para o TOC, especialmente para quem já possuía traços obsessivo-compulsivos.
O TOC por microbiofobia, em especial, (também conhecido como medo obsessivo de germes ou contaminação) é um dos mais comuns e se manifesta por obsessões ligadas ao medo de contaminação (por vírus, bactérias, sujeira, secreções, etc.) e compulsões como:
Como tratar o TOC:
1. Psicoterapia (Terapia Cognitivo-Comportamental - TCC)
A técnica mais usada chama-se Exposição com Prevenção de Resposta (EPR): a pessoa é gradualmente exposta àquilo que teme (como tocar uma maçaneta suja) sem realizar a compulsão (como lavar as mãos logo em seguida).
Isso ajuda o cérebro a "desaprender" o medo e reduz a ansiedade ao longo do tempo.
2. Medicação
Em casos moderados a graves, os psiquiatras podem prescrever inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRSs).
Esses medicamentos ajudam a regular os circuitos cerebrais relacionados à obsessão e compulsão.
3. Psicoeducação e apoio familiar
Compreender o TOC é fundamental. Quando a família entende que não é “frescura” nem “mania”, mas sim um transtorno mental, ela pode ajudar no processo terapêutico, evitando reforçar as compulsões (por exemplo, parando de “colaborar” com os rituais de limpeza).
O TOC não desaparece sozinho, mas com tratamento adequado, muitas pessoas conseguem reduzir drasticamente os sintomas e recuperar sua qualidade de vida. Quanto antes for iniciado o tratamento, melhores os resultados.
Quem sofre com TOC não quer pensar o que pensa (obsessões indesejadas), não gosta do que faz (compulsões causam sofrimento), senta vergonha, culpa e ansiedade constante, reconhece que os pensamentos são irracionais, mas não consegue evitá-los
O TOC pode ser influenciado pelo ambiente e por outras pessoas, mas não é "causado" diretamente por alguém, como se fosse contagioso.
TOC tem uma base biológica, mas pode ser influenciado por fatores externos
O ambiente em que a pessoa vive pode desencadear os primeiros sintomas, aumentar ou reforçar comportamentos obsessivo-compulsivos, e até tornar o transtorno mais grave ou persistente
Filhos de pessoas com TOC têm mais chance de desenvolver o transtorno por modelagem de comportamento — ou seja, aprender padrões de pensamento e rituais ao observar os pais.
Uma criança que vive com pais que tem medo extremo de bactérias, cresce ouvindo:
- “Não toque nisso, está sujo!”
- “Lave as mãos de novo, você não esfregou direito!”
- “Esse lugar está cheio de germes, vamos embora!”
Essa criança pode internalizar esses medos e desenvolver obsessões e compulsões semelhantes, principalmente se tiver uma predisposição biológica.
O TOC pode levar ao desenvolvimento de outros transtornos mentais, especialmente quando não é tratado adequadamente:
Transtornos que costumam aparecer junto com o TOC (comorbidades):
1. Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) - A constante preocupação e medo ligados ao TOC podem se generalizar para outras áreas da vida, levando a um estado de ansiedade persistente.
2. Transtorno Depressivo Maior - Pessoas com TOC frequentemente sentem culpa, vergonha, frustração e desesperança. Isso pode levar à depressão, especialmente quando há prejuízo no trabalho, nos estudos ou nos relacionamentos.
3. Transtornos alimentares - Em alguns casos, a obsessão por controle ou limpeza pode se estender à alimentação, levando a comportamentos restritivos como na anorexia ou compulsivos como na bulimia.
4. Transtornos relacionados ao uso de substâncias - Algumas pessoas recorrem a álcool ou medicamentos sem prescrição para aliviar a ansiedade, o que pode gerar dependência.
5. Fobia social ou isolamento social - O medo de ser julgado por seus comportamentos ou o esforço para evitar "contaminação" pode levar ao isolamento, criando um quadro semelhante à fobia social.
6. Transtorno de personalidade obsessivo-compulsiva (TPOC) - Embora seja diferente do TOC, algumas pessoas desenvolvem traços de personalidade marcados por perfeccionismo extremo, rigidez e necessidade de controle constante.
O TOC é um transtorno sério que, se não for tratado, pode abrir caminho para outros transtornos mentais. O sofrimento psíquico acumulado gera um efeito dominó que atinge diversas áreas da vida da pessoa,mas com acompanhamento psicológico e/ou psiquiátrico, o TOC tem tratamento eficaz, e as comorbidades também podem ser controladas.