Sempre que compro peixes ou frutos do mar, me pergunto se estou fazendo bem ou mal à minha saúde. Sabe-se que a qualidade da água nos rios do Brasil, esse país de dimensões continentais, varia significativamente conforme a região e fatores locais, como urbanização, tratamento de esgoto e preservação ambiental. Áreas urbanizadas e regiões da Mata Atlântica, enfrentam desafios significativos apesar dos esforços contínuos de monitoramento, tratamento de esgoto e conservação ambiental.
No estado de São Paulo, a qualidade da água dos rios é particularmente preocupante, apresentando os piores índices do país. A Fundação SOS Mata Atlântica coletou dados de 112 rios durante o ano de 2024, em 14 estados com incidência de Mata Atlântica, e percebeu uma ligeira piora e estagnação em alguns pontos, com poucos registros de melhora, restritos a projetos pioneiros.
O Relatório Digital de Qualidade da Água, lançado pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), que disponibiliza informações atualizadas sobre a qualidade das águas superficiais de rios e reservatórios monitorados por redes estaduais integradas à Rede Nacional de Monitoramento da Qualidade da Água (RNQA), permite que visualizemos os dados de qualidade por meio de mapas interativos, identificando pontos de monitoramento por região.
A má qualidade da água nos rios brasileiros afeta diretamente a saúde dos peixes e a segurança do consumo humano. Quando os rios estão poluídos por esgoto, resíduos industriais, agrotóxicos e metais pesados, os peixes absorvem essas substâncias, o que pode causar diversos problemas à nossa saúde.
1. Contaminação por Metais Pesados
Mercúrio, chumbo e cádmio se acumulam nos tecidos dos peixes através de um processo chamado bioacumulação. Esses metais, em grandes quantidades, são tóxicos tanto para os peixes quanto para quem os consome. Em humanos, a ingestão de peixes contaminados pode causar problemas neurológicos, renais e até câncer.
2. Presença de Microrganismos Patogênicos
Águas poluídas por esgoto doméstico contêm bactérias, vírus e parasitas. Peixes que vivem nessas condições podem carregar esses agentes infecciosos, aumentando o risco de doenças como hepatite A, salmonelose e infecções gastrointestinais em quem consome a carne malcozida.
3. Bioacumulação de Pesticidas e Resíduos Químicos
Agrotóxicos usados em áreas agrícolas próximas aos rios escorrem para as águas, contaminando os peixes. Essas substâncias podem causar alterações hormonais nos animais (como a feminilização de peixes machos) e aumentar o risco de doenças crônicas em humanos que consomem a carne contaminada.
4. Alterações Genéticas e Deformações
A exposição prolongada a poluentes pode causar mutações genéticas e deformidades físicas nos peixes, como crescimento anormal e dificuldades de reprodução, ameaçando a biodiversidade dos rios.
5. Risco ao Consumo Humano
Em regiões altamente poluídas, a vigilância sanitária pode restringir a pesca e o consumo de peixes devido aos altos níveis de contaminação. Consumir peixes de rios poluídos sem controle de qualidade pode representar sérios riscos à saúde.
Situação no Brasil
- Rio Doce (MG/ES): Após o desastre de Mariana em 2015, estudos apontaram altos níveis de metais pesados em peixes, tornando-os impróprios para o consumo.
- Rio Tietê (SP): A poluição é tão severa em alguns trechos que os peixes praticamente desapareceram devido à falta de oxigênio na água.
É necessário investir em saneamento básico, fiscalização ambiental e projetos de recuperação de rios para garantir a saúde dos ecossistemas aquáticos e a segurança alimentar da população.
Por outro lado, há que se considerar os peixes criados em fazendas (aquicultura), que geralmente apresentam melhor qualidade em relação aos peixes de rios poluídos, mas essa qualidade também depende de fatores como manejo, alimentação e controle ambiental.
Vantagens dos Peixes de Cativeiro (Aquicultura)
- Controle de Qualidade da Água
Em fazendas bem geridas, a qualidade da água é monitorada para evitar contaminação por metais pesados, pesticidas e microrganismos, o que reduz os riscos associados a peixes selvagens de rios poluídos. - Alimentação Balanceada
Os peixes de cativeiro recebem rações específicas que controlam os nutrientes, garantindo crescimento adequado e níveis seguros de gordura, proteínas e ômega-3. Isso melhora o valor nutricional e a segurança do produto. - Menos Contaminação Química
Ao contrário dos peixes selvagens expostos a poluentes, os criados em cativeiro (quando bem regulados) têm menor risco de bioacumular metais pesados ou resíduos tóxicos. - Inspeção Sanitária Regular
Peixes de fazendas são mais frequentemente inspecionados por órgãos sanitários, o que ajuda a garantir que estejam livres de parasitas e doenças transmissíveis.
Desafios e Riscos em Peixes de Cativeiro
- Uso de Antibióticos e Hormônios
Em algumas fazendas, especialmente as que priorizam lucro em detrimento da qualidade, há o uso excessivo de antibióticos para prevenir doenças e hormônios para acelerar o crescimento. O consumo desses resíduos pode trazer riscos à saúde humana, como resistência bacteriana. - Superlotação e Estresse Animal
Tanques superpovoados favorecem a disseminação de doenças e parasitas. Peixes criados em ambientes estressantes podem ter menor qualidade nutricional e apresentar sabor inferior. - Diferenças no Perfil Nutricional
Peixes selvagens, especialmente os de águas frias (como salmão e truta), tendem a ter maiores níveis de ácidos graxos ômega-3. Em cativeiro, a qualidade do ômega-3 depende diretamente da dieta oferecida.
Peixes de Cativeiro com Boa Reputação no Brasil
- Tilápia – Peixe de água doce mais produzido no Brasil. É leve, tem pouca gordura e, em sistemas de cultivo controlados, apresenta alta qualidade.
- Pintado e Tambaqui – Peixes nativos da Amazônia que, em boas condições de cultivo, têm carne firme e saborosa.
- Salmão (Importado) – Criado em cativeiro no Chile, é rico em ômega-3, mas há preocupação com o uso de corantes artificiais e antibióticos em algumas fazendas.
Como Escolher Peixes de Cativeiro de Qualidade –
Peixes criados em fazendas bem-reguladas e com boas práticas oferecem maior segurança e qualidade em comparação aos peixes de rios poluídos. No entanto, é importante estar atento à procedência para evitar produtos com excesso de hormônios ou antibióticos
- Verifique a procedência: Prefira comprar de produtores certificados por órgãos como o MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) ou com selos como ASC (Aquaculture Stewardship Council).
- Pergunte sobre a criação: Informe-se sobre a alimentação dos peixes e o uso de medicamentos.
- Observe o aspecto do peixe: Peixes frescos têm olhos brilhantes, pele firme e cheiro suave